Este sou eu


Começo a entender somente agora como é difícil falar de nós mesmos, mas como acreditamos, que a curiosidade de quem nos visitar, não será mais, que simples curiosidade mesmo sem outros objectivos, ficamos um pouco mais a vontade para o fazer.
Como tudo tem um principio e eu não pedi para nascer, nem quando, nem onde, começo por declarar, que fui um sortudo, por ter nascido em fevereiro, numa cidade com mais de dois mil e cem anos de história num ano em que se vislumbrava o cair do pano, que poria fim a um dos mais terríveis períodos da história do século passado.
Em fevereiro, porque em qualquer dos signos, Zodíaco (peixes), Chinês (Cabra) ou Cigano (capela), sou apresentado como um ser emotivo, sensível, leal, justo, espiritualizado, sonhador, romântico, carinhoso e amigo de ajudar o próximo o que satisfaz e infla o meu ego, mesmo que às vezes reconheça que só tenho aproximações, com as predições dos tarólogos.
Cada um tem por hábito dizer que a sua terra natal é a melhor e mais bela. Concordo até porque penso, que não existe outra cidade tão cantada em verso e prosa, quanto a minha Lisboa. Não existe outra cidade que tenha a harmonia arquitectonica, entre o velho secular e o comtemporâneo das edificações, que parecem ter sido implantadas ali onde estão e não construídas naturalmente pela expansão urbana, tudo isto mesmo depois de em 1755, ter sido parcialmente destruida por um terramoto, que deixou a sua parte baixa em escombros. A sua fundação data do ano de 148 AC, o que nos dá a dimensão, de quão grandiluqua e exuberante é a sua história.



Não bastasse tudo isso, Lisboa tem ainda o orgulho de ser a capital do fado, canção maior que desde os tempos da Severa, expressa de maneira singular o sentir dos sentimentos do povo português. E que pese o passar de gerações e influencias, se mantem como o carro chefe entre todas as canções, aquela que identifica um país. Portugal.
Aliás, Lisboa tem a cara do fado.
Por isso, não poderia ter nascido noutro lugar, pois em nenhum outro lugar do mundo o gemido das guitarras e o trinar das violas que acompanham as vozes dos fadistas, tem o mesmo som e significado, que consegue apaziguar a alma de quem gosta de fado.
Cresci e aprendi, entre o Bairro Alto e a baixa Pombalina, já que morava entre eles e a deslocação era facílima.
Entre frequência as aulas do Liceu Passos Manuel e da Escola Académica, sem querer cheguei a idade de escolher, entre os tres ramos das Forças Armadas. E a aeronáutica sempre me tinha seduzido, tendo sido na Força Aérea Portuguesa que passei quase cinco anos e começava entretanto a dar os primeiros passos, na área da comunicação. Aliás os primeiros passos tinham sido dados, enquanto estudante, o que me havia valido o convite para deixar o Passos Manuel, por causa de um artigo no jornal do Liceu. Mas foi por essa época, que numa visita de estudo visitei, a Rádio Altitude, situada no Caramulo e tive o meu primeiro contato com a radiofonia. Amor a primeira vista, pois a partir daí não mais deixei a "latinha".
Os anos iam passando e, ou fruto das circunstâncias, ou provocando as situações, não mais perdi esse contato, com a sensação obtida pela interação entre comunicador e comunicados.
Foram vários os prefixos que me acolheram entre eles a Renascença pelas mãos de Baptista Pereira e os Emissores do Norte Reunidos. Com o curso de locução da Emissora Nacional, ainda na Rua de São Marçal, pois morava a uma quadra, surgiu um convite para integrar o Teatro de Ensaio, onde permaneci por três épocas e me deu a possibilidade de receber convites para apresentações, as mais diversas, desde artísticas a convenções.
Entretanto, chegámos a 1974, ano da Revolução dos Cravos e da libertação, das amarras políticas do povo português.
Nunca até então, havia sido muito chegado à política, salvo ter passado dezanove dias na António Maria Cardoso, (dependências da pide - Policia Internacional de Defesa do Estado) creio até hoje que por engano de avaliação ou pelo fato de ser muito amigo, de um socialista convicto, agitador quando era solicitado e pertencente aos quadros da Marinha Mercante.
Numa revolução, mesmo que seja como a pacífica Revolução dos Cravos, tem sempre vencedores e perdedores. E eu me considerei vencedor, pelo significado da revolução, e perdedor pelo resultado dos negócios da agência de publicidade, que tinha na época.
E em 1975, rumei para o Rio de Janeiro, entre os muitos milhares de patricios que tomaram esse caminho, pelas mais diferentes e variadas razões.
Depois de ter uns primeiros meses, meio confusos e atribulados, por causa dos livros que tinham vindo comigo e que foram rigorosamente vistoriados e avaliados pelas autoridades do DOPS, cheguei a conclusão que tinha feito a escolha certa, para mudar a direção da minha vida.
Sendo o Brasil e principalmente o Rio de Janeiro, uma grande escola de comunicadores, logo me apercebi, que teria de traçar novos rumos.
E me vali, dos conhecimentos de economia e marketing, para sobreviver sem no entanto nunca deixar a comunicação de lado.
Graças ao lendário, Dr. Tenório Cavalcanti (in memorian), comecei na Radio Difusora Duque de Caxias, depois Rádio Guanabara e finalmente Rádio Bandeirantes, onde permaneci por trinta e cinco anos. Passagens pela tv Bandeirantes (canal 7) e tv Record (canal 9) e pelas revistas "Voz de Portugal", "Portugal" e "BGA Noticias", além de ser co-fundador da Malta Editora (rádio, revista e tv) e da ALBI-Associação Luso Brasileira de Imprensa, da qual fui o primeiro presidente, fazem parte da minha vida no Brasil.
Fazem ainda parte da minha vivencia luso-carioca, passagens pela Federação das Associações Portuguesas e Luso Brasileiras, Associação Atlética Portuguesa (Portuguesa Carioca) e CCP - Conselho das Comunidades Portuguesas.
Este sou eu, sem retoques...







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